terça-feira, 22 de novembro de 2016

Caderno de bons momentos.

Pra começar, botei a música da banda que você gosta. Aquela, que você perseguia desde 1999 e pegou a palheta no show do ano passado. Ela tem me lembrado você.
Trinta e cinco anos e uma vida feita. Eu, vinte e seis e não consigo nem manter meu quarto arrumado por uma semana.Como isso tudo começou? Eu meio que me perdi no princípio. Acontece que o princípio foi o meio.Seus olhos irritantemente lindos e seu cabelo desgrenhado e essa cara de moleque e o fato de gostarmos de rock e nossa história não ter começado no jogo de damas. Um monte de "e's", amarrando uma coisa na outra porque é assim que sinto como as coisas estão acontecendo. Já me perguntei trocentas mil vezes por que não falei que amava jogar damas, mesmo perdendo sempre. Por quê não fui aos jogos de futebol nos fins de semana? Como não percebi que um simples jogo poderia ser uma maneira de quebrar a barreira que nos separava.
Uma vida inteira poderia ter sido diferente, eu fantasio. Ou duas, você responde. 
Que música você acha que eles vão abrir o show? Eu acho que é "Será", e você? Sei lá! Tempo perdido...a única que me vem à cabeça."Aquele instante no meio do show em que você me segurou por trás pelos ombros e apoiou a cabeça na minha nuca...fiquei toda arrepiada." Foi um bom bom momento, você falou. Eu disse que ia anotar no meu caderno de bons momentos. Você perguntou se eu tenho um caderno. Eu ri. Não, tenho um blog. Mas não se preocupa, não vou colocar seu nome. O laço no seu dedo me impediu de virar e te beijar. Arrisco dizer que hoje vai bater o recorde de carros parados no naval. Isso não é um convite. Você chuta 40, eu arrisco 47. Quando você me beijou eu senti nervoso. Fazia tempo que não sentia isso. Daí eu conto mais sobre mim e você descobre que nunca fui a menina inocente aos 19 anos que você imaginou. Aonde estamos indo? Por quê estamos indo? Aonde vamos parar? Eu namoro as fotos que me mandou. Varro seus arquivos só pra te admirar. Ridículo, eu sei. Mas é o que eu posso fazer, devido à distância, às circunstâncias.
Não sou ela. Não posso ser. Nunca serei. E agora tá tudo confuso. É, eu me entrego aos meus sentimentos também...talvez mais do que você. Não, não quero parar agora. Não quero parar nunca.

"Aquele gosto amargo do teu corpo

Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
Forte, cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco

Faço nosso o meu segredo mais sincero

E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção (...)"

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Carta perdida no caderno, sem data.

 Essa é uma carta pra alguém. Ou pra ninguém. Alguém que não vai ler, que não quer receber. Que não dá a mínima pra isso, que não quer compromisso. Alguém que roubou um pedaço de mim e se foi. Ou outro alguém que não roubou mas também não ficou. Essa carta é pra você, que causa minhas insônias, que se faz de sonso e que não tem um plano. Ou pra você, que está por aí e nunca vi, caso um dia viermos a nos encontrar.
 Essa é pra você que invade meus pensamentos em tormento e acalma com sua fala mesmo sem graça. Que beija minha boca com gosto, ou o rosto ou seio, ou o corpo todo. Você, que foi embora logo agora e seu cheiro permanece depois do gozo. Pra você que perdi, por ser carente demais e querer sempre mais.
 Para todos os amantes, que o beijo seja com gosto e o sexo com tesão. Que haja gozo, sem reprimir a verdade ou a vontade. Que uma ficada não seja só uma trepada, mas uma troca intensa de calor, energia e fluidos, porquê não? Que seja livre, mas não vulgar, que aqueça e saiba amar. Que possibilite novas relações, conexões e trocas.
Essa é pra você(s).