segunda-feira, 31 de março de 2014

01/04/14

 Abriu a porta do apartamento mofado e escuro. Acendeu o abajur, estava uma penumbra. Tirou o casaco preto, estava encharcado da chuva lá fora. Seus cabelos negros também molhados caíam pelo rosto e olhos. Tirou o pacote do bolso. O plástico estava úmido, mas o conteúdo intacto. Sem cerimônia, abriu o pacote e fez um montinho na mesa de centro. Pegou a chave, na falta de um cartão, e separou uma fileira. Separou uma nota de dois reais e enrolou. Contou até três, se inclinou pra frente, colocou o canudo feito de nota entre a fileira e o narina direita e aspirou. Sua morte começava ali.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Sufoca

 Algo me sufoca. Sobe pelo estômago, passa pelo peito e aperta minha garganta. Algo me sufoca, aos poucos, fecha minha mente, me cega, me entorpece. Entro em desespero, procuro uma saída, um alívio, mas algo ainda me sufoca. Tento afastar os pensamentos ruins, mas eles me invadem, não pedem permissão e tiram tudo do lugar. Uma estranheza sobre as coisas bate na minha consciência, já não consigo pensar claro. Um calafrio percorre meu corpo, será que estou doente? Será que sou demente? Será que é a mente?
 Tento escrever, tirar da cabeça o que me consome, mas me some e não tenho palavras. 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Esperando o remédio fazer efeito, já que não encontro abrigo no teu peito.

Por último.

 Era só pra desejar boa viagem. Depois de uns dias mal falados, vontade reprimida. A vergonha, a dúvida, o desejo, tudo ao mesmo tempo enquanto o olhava. Falou mal do meu piercing. Reparou na minha pinta no pescoço, falou que era feia. Reparou que não depilo as coxas... Tudo pra me botar pra baixo. Jogou umas piadas sem graça e eu, idiota, ri. Então ele me olhou. De um jeito que eu não era olhada há um tempo. Fixei meus olhos nos dele. Sentados no chão, ele na minha frente, passou a mão pela minha nuca e segurou meu cabelo.Do jeito que só ele sabe segurar.  Passou a boca no meu pescoço, queixo, ficou dando voltas... Puxou mais forte meu cabelo, beijou minha boca.Parecia que nunca tínhamos feito aquilo antes. Uma sensação de novidade, de surpresa, de não saber o que esperar. Ele me provocou, me levantou, me agarrou. Perdi o equilíbrio, caímos na cama. Aquela cama bagunçada, cheia de roupa, edredom e lençol misturado. Uma bagunça de semanas... Ali ele veio devagar, me beijando e me deitando, com o carinho que só ele tem.