quinta-feira, 28 de maio de 2015

50%



Não existe uma razão para estar escrevendo a essa hora. Ou mesmo para estar acordada. Vi um filme outro dia, 50%. O cara tem 27 anos e descobre que tem um câncer na medula. Ele tem 50% de chance de sobreviver. Enfim, o filme é maneiro, acaba de um jeito que faz você querer uma continuação e é do tipo que deixa você pensando em tudo.
Sou uma pessoa extremamente pessimista quanto à tudo...e isso me faz ser um pé no saco. 
Acabei de comprar um ingresso para um show que quero muito ir faz uns anos, e não tenho companhia. 
Tô pensando seriamente em ir para a Irlanda estudar nos próximos anos. Preciso terminar a faculdade antes. 
Ah, tirei sua foto hoje da minha estante. Não quero olhar seu sorriso e imaginar você com raiva de mim. 
Não tenho motivos para chorar hoje. Talvez até tenha, mas não tô afim. 
Talvez eu esteja descobrindo aos poucos o que é e como é estar sozinha. Mesmo que eu dê alguns tropeços no meio do caminho.
Engaçado como fazemos as coisas, e elas podem ser mal interpretadas. Ser a mentirosa do ano, faz parte. 
Preciso voltar a ler. Sinto falta de algo que me deixe compenetrada por horas.
São 4h da manhã agora...
Outro dia senti falta de dormir com a mão dada a alguém. Então apertei uma mão na outra e fingi que era você. 

50%, é tudo o que você tem. 


domingo, 24 de maio de 2015

Existem pessoas que morrem em vida. Existem pessoas que se tornam um fardo para outras. Sim, é "feio" pensar isso. É horrível falar que alguém merece morrer. Mas é a verdade, e não tem jeito bonito de falra uma coisa dessas. Ele é uma dessas pessoas. Católico, o filho mais velho dos 14. 4 filhos, dois homens e duas mulheres. Nunca se deu bem com o filho mais velho. Bateu muito nele e não gosta de ser cuidado por ele. Sempre foi rígido, mandão. Na festa de 15 anos da filha mais velha, proibiu de ter festa pois era no meio da quaresma. O sogro deixou uma casa para cada filho, e ele vendeu a da esposa para abrir uma firma que não deu certo. Passaram a morar de aluguel, pulando de uma casa para outra, ou morando na casa dos sogros. Gostava de não jogar futebol, e ai de quem se metesse entre seu jogo e outro compromisso. O futebol era mais importante. 
Não queria que a esposa trabalhasse fora. Não sabia descascar laranja, então mandava a esposa o fazer. Não levantava para montar o próprio prato de comida, então ela vinha com a panela de feijão para que ele se servisse,  e todas as outras coisas já estavam na mesa. 
Agora, com 85 anos, mandava a esposa cortar a carne. Diziam que ele tinha fraqueza nas mãos, pudera! Nunca fez nada. Quando fui cuidar dele, na hora do almoço, ajudei a montar o prato, mas não cortei a carne. Ele comeu tudo, cortou a carne, demoradamente mas o fez. Nos últimos meses, tudo fazia mal. Açúcar fazia mal, leite fazia mal, muita comida fazia mal. Está nesse momento em pele e osso. 
Aquele homem que mandava em todos, que era grosso e o próprio umbigo era mais importante que qualquer coisa, agora tem medo de tomar banho sozinho. Pede para os filhos ficarem olhando. A esposa, que sempre fez tudo pra ele, está cansada. Viveu sua vidinha como ele quis e não como ela gostaria. Se ela está feliz, ele logo se sente atingido e não aceita a felicidade dela.  Aquele homem que mandava em todos, agora precisa da ajuda de muitos. 
Não, de você eu não tenho pena. Sim, desejo sua morte. Desejo sua morte para que sua esposa possa enfim viver (a não ser que ela dependa tanto de você que acabe definhando com sua partida). Desejo sua morte para que todos possamos descansar. Você é um fardo. Morreu em vida. Não gosta de sair de casa, não gosta que sua esposa saia de casa e fica arrastando os pés atrás dela por cada cômodo da casa, como se não pudesse perdê-la de vista. Fica sentado na sala o dia todo mordendo a língua e olhando parar o chão. Ou fica deitado o dia todo. E o pior de tudo: você tem consciência disso. Não é demenciado, não tem alzheimer, completamente lúcido. Lúcido o suficiente para tentar intimidar a filha quando não gosta de algo que ela fala.
Espero que sua partida ocorra logo. E não, não pretendo chorar por tudo isso.

sábado, 9 de maio de 2015

Nebulosa

Nebulosa que carrego no peito o pingente
No coração, um aperto de tudo o que foi
Nebuloso, como os dias desse outono
E como todos esses meses que se passaram
Vou te guardar no pingente, perto do peito
Que é onde se carrega quem entra na nossa vida
Vou guardar teu sorriso, teus olhos pequenos
Vou guardar os meus, os seus e os nossos problemas
Nebulosa, que carregou meu peito feito pingente