quinta-feira, 23 de maio de 2013

Bruma


Acordou com aquela estranha sensação de sempre, um incômodo, a garganta apertada, sufocando. Em meio ao silêncio da madrugada que se encerrava, se vestiu. Sem muito propósito, sem nem para quem ou onde, vestiu as calças escolhendo uma não muito surrada. Uma blusa confortável e os tênis de sempre, sujos e folgados. Saiu para encontrar o hálito matutino sem nada para lhe forrar o estômago. Não tinha apetite. Já a algum tempo não sentia muita coisa. Perambulou pelas ruas ainda desertas –exceto pelos cachorros magros que reviravam as sacolas de lixo. Pensou que os lixeiros haveriam de ter trabalho mais tarde. O céu escuro começava, de longe, a clarear. Livrou-se do aglomerado de prédios e concreto e chegou à praia, onde uma neblina ainda impossibilitava ver o horizonte –mas não era problema, pois já não havia um. As águas ainda rolavam e batiam furiosas contra a areia. Sem tirar os tênis, pisou na areia fofa...passo a passo, ouvindo o engraçado som do roçar da sola na areia, caminhou. A água socava brutalmente os grãos enquanto seus pés se arrastavam até o mar e sua respiração ficava mais intensa e rouca. A uns cinco metros da água, parou: deu um último olhar em volta, como se desse adeus a ninguém. Algo estourou em seu peito, como se há tempos estivesse enclausurado, veio a vontade de correr, de se jogar. Percorreu cinco metros com toda a vontade que jamais teve na vida e se jogou. Entrou na água gelada e violenta e pôs-se a nadar. Nadou até as pedras, onde o ódio do mar era ainda maior. Se deixou bater, se deixou abater.

Escrito em: quinta-feira, 3 de setembro de 2009.

domingo, 12 de maio de 2013

Avulsas

Um papel em branco.
Uma caneta.
Uma mente cheia.
Confusão, um turbilhão.
Um vazio.
Um teto.
Um espaço.
Um banco.
Em branco.